De quando em quando, o Clube conversa com alguns destaques do nossos mercado. Gente que faz bonito, que tem uma boa história pra contar, que inspira. É sempre uma referência, mas quase nunca é alguém tão novinho como a nossa personagem de hoje.
Ana Miraglia tem só 24 anos, apesar das duas pratas e um bronze em Cannes. Saiu daqui um pouco cedo demais e, quando vimos, ela tava fazendo bonito nos Estados Unidos, mesmo sem ter trabalhado em nenhuma agência por lá. Fez Miami Ad School em Nova Iorque, trabalhou em parceria com a David e, agora, ela conta um pouco desse começo meteórico de carreira.
CCPR: Vamos começar pelo começo. Por que redação?
ANA: Eu estudei na UFPR e, durante a faculdade, fiz dois estágios: um na Tif e um na Candy Shop. Acho que tive a sorte de ter bons chefes que me ensinaram mais sobre propaganda. E daí fui percebendo que gostava mais da parte de redação: criar conceitos, ideias, títulos. Sempre achei legal como um bom título pode contar uma história. Busquei essa simplicidade no meu trabalho.
CCPR: E quando surgiu a vontade de sair do Brasil, de estudar fora?
ANA: No final da faculdade eu já tinha essa vontade. Daí me planejei e estudei várias possibilidades. Eu escolhi a Miami Ad School porque perguntei para algumas pessoas do mercado e eles me indicaram a escola. Achei bem legal que eu iria ter aulas com pessoas do mercado de trabalho. Acho que esse contato entre escola e mercado é bem importante. Escolhi o curso de redação publicitária porque já trabalhava com isso e era a parte da propaganda que eu gostava mais.
CCPR: A competição com outros alunos é tão acirrada como no mercado profissional. Como é que você se destacava?
ANA: Na escola eu tentei me envolver em vários projetos e sempre tentar melhorar minha pasta. Esse era o meu foco desde o início. Quando eu fui para os EUA, a minha pasta perdeu algumas peças e eu queria recuperar o mesmo nível que tinha quando saí do Brasil. Eu também tentei me inscrever em vários prêmios porque acho que isso fazia com que eu desse o meu melhor como redatora. Eu me inscrevi em diversas competições, como o Young Glory, Young Shits, New York Festivals, Andy, One Show, etc. Acho que, como essas competições tem muitos inscritos e os jurados têm pouco tempo para avaliar seu trabalho, isso me fez ser uma redatora mais direta e objetiva.
CCPR: Inglês já difícil. Pra redatora então…
ANA: Acho que isso vai ser sempre um desafio. Como redatora, nunca vai chegar um momento em que eu vou parar de aprender inglês. Acho que trabalhar com outra língua faz com que você seja mais humilde em relação às suas habilidades como redator. E isso acaba fazendo com que a gente pense mais sobre quais palavras vai usar e tente ser mais direto e conciso. Acho que me tornei uma redatora mais consciente e comecei a focar mais em ideias. No fundo, o texto deve ser a melhor forma de comunicar uma ideia.
CCPR: Uma curitibana fazendo Miami Ad School em Nova Iorque. O que você aprendeu com todo esse choque de cultura?
ANA: Acho que uma das primeiras coisas que percebi foi como os americanos são bons em vender ideias. E eles não têm vergonha de mostrar confiança. Como redatora, tive que desenvolver essa habilidade de me dedicar a apresentações da mesma forma como me dedico ao craft do meu trabalho. Criar um roteiro mental de como vou vender uma ideia e não ter vergonha de “atuar”. Claro que tento sempre manter minha essência, mas acho que essa é uma habilidade importante. Na escola, fiz até aulas de improvisação, que me ajudaram bastante com isso.
CCPR: Uma hora você tá tirando ideia pra um festival de estudantes, na outra você tá ganhando 3 Leões em Cannes na competição principal. Como foi criar McMansions com a David?
ANA: McMansions foi criada em uma parceria com a David Miami. Eu e minha dupla, Marina Ferraz, estávamos tendo ideias para o briefing de Burger King do D&AD e compartilhamos algumas ideas com o Fernando Pellizzaro, pedindo feedback. Ele fez sugestões, simplificou algumas execuções e disse que poderia tentar apresentar uma ideia para o Fernando Machado. Ele gostou bastante e resolveu correr o risco. Depois disso, a equipe da David trabalhou duro para colocar a campanha na rua e inscrever em Cannes. Para agradecer, o Fernando Machado me levou pro Festival (a Marina não conseguiu ir porque estava esperando o visto americano). Foi uma experiência única. Além de reencontrar gente de Curitiba, tive a chance de ver palestras ótimas com David Droga, Chuck Porter, Erick Baldwin, etc.
CCPR: O Clube é uma das portas de entrada pros alunos no nosso mercado. Que dicas você daria aos estudantes que estão nos lendo?
ANA: Acho que o mais importante é aproveitar as oportunidades de aprender e não ter medo de errar, arriscar. Nossa profissão envolve muitos riscos e quanto antes você aprender a não ter medo de se expor e se recuperar de frustrações, melhor. Além disso, acho que focar em melhorar a pasta deve ser o objetivo final sempre. Isso é o que vai abrir portas para você no futuro. Por último: ter bons mentores. Encontre pessoas que você admira e tente trabalhar para elas.